«Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza»



Professora de Filosofia

 

Joseph Aloisius Ratzinger nasceu em Marktl am Inn, Alemanha, no dia 16 de abril de 1927, um Sábado Santo, e passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da Áustria.

Ordenado sacerdote a 29 de junho de 1951, dois anos depois, doutorou-se em teologia com a tese ‘Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho’.

De 1962 a 1965, participou no Concílio Vaticano II como perito, em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de Munique e Frisinga, a 28 de maio recebeu a sagração episcopal escolhendo como lema ‘Colaborador da Verdade’ e no consistório de 27 de junho de 1977 foi nomeado cardeal.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, o qual elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guaiaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro; no mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.

O Papa polaco nomeou o Cardeal Ratzinger como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981.

No dia 19 de abril de 2005, o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito como o 265.º Papa, sucedendo a João Paulo II, a 11 de fevereiro de 2013, Dia Mundial do Doente e memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, anunciou a renúncia ao pontificado, uma decisão inédita em quase 600 anos de história na Igreja Católica.

Nos 2872 dias do seu pontificado, Bento XVI escreveu 17 cartas apostólicas sob forma de motu proprio,116 constituições apostólicas e 144 cartas apostólicas, além de outras cartas e mensagens, discursos e homilias.

As encíclicas, textos mais importantes do seu pontificado, começaram a ser publicadas em 2006, com a ‘Deus caritas est’ (Deus é amor), um texto breve que apresenta uma “fórmula sintética da existência cristã”: Deus é amor e os cristãos acreditam nesse amor, fazendo dele a “opção fundamental” da sua vida.

O texto é estruturado em duas partes: a primeira, mais teórica, unifica os conceitos de ‘eros’ (amor entre homem e mulher) e ‘agape’ (a caridade, o amor que se doa ao outro); na segunda, centra-se na acção caritativa da Igreja, que apresenta como mais do que uma mera forma de “assistência social”, mas como uma parte essencial da sua natureza.

‘Spe salvi’ (Salvos na esperança) é o título da segunda encíclica de Bento XVI, de 2007, dedicada ao tema da esperança cristã, num mundo dominado pela descrença e a desconfiança.

“O homem tem necessidade de Deus, de contrário fica privado de esperança”, pode ler-se num texto que cita, entre outros, Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoievski, Engels e Marx – ao criticar o “materialismo” marxista.

Depois de negar que Jesus tenha trazido uma mensagem “socio-revolucionária”, Bento XVI abordou a questão da evolução para afirmar que “a vida não é um simples produto das leis e da casualidade da matéria, mas em tudo e acima de tudo há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus se revelou como amor”.

A terceira encíclica, ‘Caritas in Veritate’ (A caridade na verdade), publicada em 2009, propõe uma nova ordem internacional, para superar as sucessivas crises, apontando como prioridade a “reforma quer da Organização das Nações Unidas quer da arquitetura económica e financeira internacional”.

Bento XVI propôs “uma profunda reflexão sobre o sentido da economia e dos seus fins, bem como uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento”.

Em 2012, Joseph Ratzinger encerrou a sua trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’ com um livro sobre a infância de Cristo.

A 18 de abril, Bento XVI tornou-se o terceiro Papa a discursar na sede da ONU, depois de Paulo VI, em 1965, e João Paulo II, em 1979 e 1995.

Entre os temas centrais do pontificado estiveram as críticas ao relativismo e ao secularismo da sociedade ocidental, a preocupação com as questões bioéticas – aborto, eutanásia, investigação em embriões – e da família, para além da crise financeira e das questões ecológicas.

Face à crise provocada pelos casos abusos sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições católicas de vários países, Bento XVI encontrou-se com vítimas em várias viagens, demitiu bispos e reformou a legislação da Igreja, neste campo.

Bento XVI realizou 24 viagens ao estrangeiro, incluindo uma visita a Portugal, entre 11 e 14 de maio de 2010, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.

Bento XVI presidiu a três Jornadas Mundiais da Juventude (Colónia, Sidney e Madrid), para além de ter convocado cinco Sínodos dos Bispos, um Ano Paulino, um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé. Neste pontificado foram canonizados 44 santos em 10 cerimónias, incluindo o português Nuno de Santa Maria, D. Nuno Álvares Pereira, a 26 de abril de 2009; Portugal passou a contar também com duas novas beatas: Rita Amada de Jesus (beatificada a 28 de maio de 2006, em Viseu) e a Madre Maria Clara (21 de maio de 2011, Lisboa).

O Papa emérito Bento XVI faleceu a 30 de dezembro de 2022, aos 95 anos de idade. Filósofo, Teólogo e Pastor, sempre foi um humilde trabalhador na barca da Igreja que vacilava entre o mundano e o divino, vítima de convulsões internas e externas. Nesta vinha dessacralizada Bento XVI, como servo bom e fiel não se absteve de apelar à Razão e à Fé, sabendo que o mal existe mas não tem a última palavra. Fiel no pouco e no muito para sempre repousará na casa do Senhor.

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