Quem não se lembra do agente laranja na guerra do Vietnam ou das bombas nucleares que em dois dias destruíram as cidades de Hiroshima e Nagazaki? Mesmo que tenha sido implementada uma grande campanha para a descontaminação destes territórios todos, estes ataques ainda são sentidos nestas regiões.
Depois da destruição causada durante a segunda Grande Guerra e no sentido de se criar uma “regra” para os conflitos armados, em 1949 foi estabelecido o Acordo de Genebra. Em 1977 foi incluído um Protocolo Adicional onde: “é proibido empregar métodos ou meios de guerra que causem, ou tenham expectativas de causar, vasto, longo e severo dano ao meio ambiente natural”.
Em 1992, durante a ECO 92 no Rio de Janeiro é lançada a Declaração Internacional do Direito ao Meio Ambiente que preconiza que “a guerra é, por definição, contrária ao desenvolvimento sustentável''. Os Estados devem, por conseguinte, respeitar o Direito Internacional aplicável à proteção do meio ambiente em tempos de conflito armado, e cooperar para seu desenvolvimento, quando necessário” e que “a paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisíveis”
Regressa o medo da energia nuclear
Em território ucraniano existem inúmeras minas de carvão, depósitos de petróleo, fábricas de produtos químicos e instalações de armazenamento, gasodutos e outros tipos de instalações industriais, que podem liberar enormes quantidades de poluição se atingidas em bombardeamentos. Alguns locais já foram atingidos.
Em Donbass está iminente uma catástrofe ecológica alimentada pela poluição do ar, do solo e da água em virtude da queima de grandes quantidades de munição nos confrontos e de enchentes em fábricas.
Entretanto a maior preocupação cinge sobre a questão nuclear. Encontram-se ativas na Ucrânia 4 fábricas nucleares que somam 15 reatores ativos. Em depoimento ao NY Times Oleksandr Krasnolutskyi, vice-ministro da Proteção ambiental afirma que “as ações militares perto das fábricas nucleares podem levar à contaminação radioativa em larga escala de vastas áreas não apenas na Ucrânia, mas também muito além de suas fronteiras". Danos a locais de armazenamento de resíduos nucleares também podem produzir contaminação significativa, como é o caso da Zona de exclusão de Chernobyl.
A Reserva da Biosfera do Mar Negro
Segundo dados da Reuters, o conflito entre a Ucrânia e a Rússia provocou a morte de 3.930 civis. As notícias estão voltadas para os combates nas cidades que continuam a estar sob fogo cerrado.
A Ucrânia é uma zona de transição ecológica e abriga uma série de pântanos e florestas. A floresta de Faia Uholka-Shyrokyi Luh foi designada como Património Mundial da Unesco em 1992. Além das florestas, há a Reserva da Biosfera do Mar Negro, que é a maternidade de muitas aves migratórias. São mais de 120 mil aves raras como é o caso da águia-de cauda-branca, o merganso-de-peito-vermelho e o perna-de-pau ou maçaricão.
Além das aves, a reserva ainda dá proteção ao rato-toupeira-cego, ameaçado de extinção; os golfinhos-nariz-de-garrafa, inúmeras espécies de moluscos e peixes e flores raras e endémicas que agora têm que conviver com um exército invasor.
Sobre o Delta do Danúbio, o vice-ministro da Proteção Ambiental diz não ter informações conclusivas sobre as perdas ambientais.
Serão precisos muitos anos para se restabelecer a paz entre os homens e o ambiente.
Imagens: Pixabay
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