"O Centro de Portugal tem um potencial enorme, e uma necessidade evidente, para receber mais pessoas".
Em entrevista ao TejoMag Pedro Machado, Presidente do Turismo do Centro de Portugal, comenta o impacto dos nómadas digitais na economia da região.
O litoral, de uma forma geral, é uma escolha preferencial, com Peniche a ser um caso de destaque particular, com vários projetos que unem o estilo de vida nómada digital ao surf, e onde os nómadas digitais podem viver e trabalhar com qualidade durante determinados períodos de tempo.
A legislação de nómadas digitais estrangeiros em Portugal mudou a 30 de outubro de 2022. Houve um aumento de nómadas digitais na zona Centro? Tem uma estimativa relativamente ao ano anterior?
Ainda é muito cedo para responder com fiabilidade a estão questão. Por esta altura, não existem ainda números concretos sobre o aumento dos nómadas digitais no Centro de Portugal. Uma coisa é certa: existem mais espaços na região capacitados para receber nómadas digitais em 2022 do que em 2021, e incomparavelmente mais em 2022 do que em comparação com 2019.
Que localidades são preferenciais para os nómadas digitais?
Diria que o litoral, de uma forma geral, é uma escolha preferencial, com Peniche a ser um caso de destaque particular, com vários projetos que unem o estilo de vida nómada digital ao surf, e onde os nómadas digitais podem viver e trabalhar com qualidade durante determinados períodos de tempo. O Selina Peniche, dentro do caso particular de Peniche, é talvez o melhor exemplo.
Porquê? Há medidas direcionadas para a captação destes nómadas na zona Centro?
O litoral, o mar e o surf, unindo um bom projeto, são elementos que facilmente conseguem juntar uma comunidade nómada. Por norma, os nómadas digitais não se movem para destinos, movem-se para comunidades, e é no litoral, e em particular em Peniche, que estão a constituir-se as mais sólidas comunidades nómadas digitais da região Centro de Portugal.
Que impacto tem na região Centro? Geram mais economia?
Naturalmente que geram impacto económico muito positivo. É um novo público, que desenvolve novos projetos. Com a particularidade de obedecerem a ciclos sazonais idênticos aos da movimentação turística.
Em que setores de atividade?
Em particular na hotelaria, mas em todos os setores de uma forma geral, tendo em consideração que é o impacto localizado e de nicho. Os nómadas digitais procuram os destinos para viverem durante um determinado tempo e necessitam dos mesmos serviços que um habitante local precisa durante o tempo de permanência, desde a mercearia local ao médico.
Qual o perfil destes nómadas digitais na zona Centro? Empresas, que idade têm? Estão a investir em casas, em que localidades?
Um trabalhador remoto é uma coisa, um nómada digital é outra, embora seja fácil de confundir os conceitos. Um nómada é um nómada, que não tem uma base fixa, viaja e trabalha entre lugares, e que hoje pode estar em Peniche e daqui a um mês em outro ponto do mundo. Um trabalhador remoto é muito diferente: é alguém que trabalha a partir de sua casa. Estes podem comprar uma casa na região e trabalhar a partir daí, ou a partir de um espaço de cowork, para uma empresa com base noutro lugar ou puramente digital. Cada vez mais é visível o fluxo das grandes cidades para o interior, para trabalhar remotamente. Veja-se o caso do Fundão, por exemplo. Projetos interessantes, como os cowork das Aldeias de Montanha, são cada vez mais frequentes. Sendo que o perfil de trabalhadores remotos é de pessoas estabilizadas numa carreira, entre os 35 e os 50 anos, com famílias, que procuram mais qualidade de vida. Os nómadas digitais são mais jovens, maioritariamente estrangeiros, ligados aos setores criativos ou tecnológicos.
Considera que a facilidade de benefícios fiscais a estes estrangeiros prejudica os nómadas digitais portugueses que não têm o poder de compra de casas igual aos estrangeiros?
Os nómadas digitais, no máximo, arrendam casas, não compram casas. Não acredito que esse mercado afete a região Centro de Portugal, onde há muito espaço, muitas aldeias, vilas e cidades a precisarem de novas pessoas e comunidades. A existir um problema, será em Lisboa ou no Porto.
Como se pode melhorar este sistema a curto prazo?
É um problema localizado nos grandes centros urbanos. O Centro de Portugal tem um potencial enorme e uma necessidade evidente, para receber mais pessoas. Esta região precisa de mais capacitação, quer ao nível do conhecimento, quer ao nível do investimento público e privado. A disseminação do teletrabalho nas suas mais variadas variantes, desde os nómadas digitais aos trabalhadores remotos, mas também os retiros de empresas, por exemplo, constituem oportunidades para a região, que os seus territórios podem e devem aproveitar.