Porque é preciso descarbonizar a economia

Desde a Revolução industrial do século XIX, quando começamos a queimar combustíveis fósseis para implementar o processo produtivo a emissão dos Gases de Efeito Estufa(GEE) só aumenta. O crescimento da produção industrial, a destruição das florestas, o aumento dos meios de transporte, a impermeabilização dos solos para implementação de cidades só aumentou a temperatura do planeta, a pobreza e a insegurança alimentar. Não há outro caminho para salvar o planeta. É preciso descarbonizar agora.


A Central Termoelétrica do Ribajeto adotou como matérias primárias o Gás Natural. /MARTA ALMEIDA


Segundo a ONU estima-se que em 2100 a temperatura média do planeta pode aumentar cerca de 3,7 ºc e as consequências deste aumento passam por eventos de grande impacto climatérico – secas, inundações, grandes tempestades – que coloca em risco a segurança das pessoas e que causa ainda um impacto económico e social substanciais.   

A ciência tem apontado diversos caminhos desde a primeira convenção em Estocolmo em 1972. Basicamente o que devemos fazer é reduzir a emissão dos gases de efeito estufa e preservar os catalisadores de carbono existentes como é o caso dos mares, solo e das florestas. Além disso, é preciso implementar um processo educativo e de conscientização para empresas e pessoas atuarem com maior esclarecimento. A fórmula parece simples: preservamos o ambiente e ativamos as consciências e já está: salvar o planeta.

Podia ser simples, mas não é. Nada é simples quando a questão é dinheiro, mesmo sendo evidente o quanto as mudanças climáticas são prejudiciais para as economias. O processo industrial e desenvolvimentista da sociedade atual não parece entender bem como vai planear políticas globais, locais e pessoais. O processo é lento e os prazos estão a encurtar-se. Se em 2050 a sociedade e a economia não estiverem 95% neutras em carbono a temperatura será superior ao 1,5ºC e as consequências certamente serão catastróficas.

O Acordo de Paris não é somente um acordo entre mais de 200 países para o futuro do planeta é também um pacto de sobrevivência para o futuro da humanidade.  Substituto do Tratado de Kyoto, estabelece objetivos mais claros e faz recomendações que os países mais ricos, também estes mais poluidores, transfiram divisas e tecnologia para que todos possam cumprir as metas de descarbonização.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ( IPCC) inicialmente recomendou a necessidade de uma redução média de 5% nas emissões desde 1990 durante o período de 2005 até 2012. Numa segunda fase, até 2020 as partes teriam que comprometer-se a reduzir em mais 18% as emissões de GEEs. Agora o próximo espaço de tempo é até 2030, onde os países membros acordaram uma meta muito arrojada: a redução de 50% das emissões.

Em Portugal, temos boas expectativas, estamos no bom caminho. Desde 2015, quando Portugal assumiu um compromisso para mudar a trajetória de destruição do planeta junto com mais 195 países parceiros, muitas metas foram batidas e grandes passos rumo à resiliência diminuindo a vulnerabilidade do território e posicionando-se de forma audaciosa neste cenário rumo a neutralidade carbónica.

Num ranking de emissores, o setor da energia é responsável pela maior quota: 67 % do total de emissões em 2020. A seguir temos as atividades de transporte com 25,8 % do total.  A indústria energética vem em terceiro lugar com 18,1 % e é o setor que registou a maior redução em emissões, pois em 2019 foi responsável por 36,7% das emissões totais em Portugal. Este resultado só foi alcançado porque houve políticas que combinaram uma maior produção e utilização de energias renováveis, menor produção de energia térmica e a passagem do carvão para o gás natural.

Francisco Ferreira, presidente da Zero, comenta à TejoMag, sobre os avanços e retrocessos da ação portuguesa rumo à descarbonização. Ressaltou que por mais passos positivos e metas alcançadas que Portugal alcance, enquanto “não houver uma mudança nos paradigmas de consumo não será possível construir um desenvolvimento sustentável”.   

Considera que a atuação, em algumas frentes, tem sido positiva, tendo feito uma grande aposta nas energias renováveis e nos edifícios inteligentes. Entretanto, é preciso que haja “mais honestidade na avaliação da evolução das políticas públicas e uma maior coerência na implantação de ações estruturantes”. Faz-se aqui necessário “mais empenho político para colocar as prioridades em ordem”.  

Francisco Ferreira, fala “com preocupação sobre as emissões sobre o setor de transporte não contabilizar as emissões da aviação e do transporte marítimo internacionais que vêm embutidas nas importações de produtos agrícolas” e não só, que “é uma fatia cada vez mais crescente”.

Portugal caminha ao lado dos parceiros europeus, para conquistar a “salvação” até 2040. Entretanto, o certo é que cada vez mais, países ricos e pobres, passem por grandes dificuldades em virtude dos efeitos nocivos das emissões de CO2 destes últimos 70 anos. Produzir mais em menor tempo demanda o uso cada vez mais intenso dos finitos recursos naturais.

Em junho de 2022 comemoraram-se os 50 anos da Conferência de Estocolmo, estamos todos a viver uma crise sem precedentes. A mudança do clima, a poluição e resíduos e perda da natureza e da biodiversidade, afetará de certeza as gerações que estão a crescer agora e afetará de forma contundente todas as estruturas sociais. Estamos muito próximos de um ponto de não retorno onde a saúde humana, a prosperidade, a igualdade e a paz estão ameaçados. Está mais do que na hora de governos, empresas e sociedade parar de repetir os erros do passado e evoluir rumo a um planeta descarbonizado e sustentável.

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